
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro!
Era como se todas as coisas fossem minhas: quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes! E eu acreditava!
Acreditava, porque ao teu lado todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
no tempo em que o teu corpo era um aquário,
no tempo em que os teus olhos eram peixes verdes.
Hoje são apenas os teus olhos.
É pouco, mas é verdade, uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor... já não se passa absolutamente nada.
E, no entanto, antes das palavras gastas, tenho a certeza de que todas as coisas estremeciam só de murmurar o teu nome no silêncio do meu coração.
Não temos nada que dar.
Dentro de ti Não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas. Adeus.
2 comments:
Quando as palavras estão gastas... Tudo o resto se torna mais dificil, mas não IMPOSSIVEL!!!!
Espero ver-te sorrir em breve:))
Eugenio de Andrade é sempre uma boa escolha!!
Trato por tu este poema à mais de vinte anos e arrepia-me sempre!
Foi bom recordar, saber k é eterno.
Obrigada *
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